segunda-feira, 3 de junho de 2013

Ego


- Você gosta disso. Você gosta de se sentir assim, na caçada, na fuga. Gosta de se sentir só. Singular, único, (sozinho).

 Esta última fora sussurrada como se o vento lhe falasse ao ouvido e logo deixava a sós consigo mesmo. Parecia feito de piche. O lobo se viu e por mais que outra aparição mostrava-se a sua frente, nada mais quera que ele mesmo. Um alter ego.

- Você se sabota e você sabe disso.
- Sei.
- Você me odeia por isso e odeia a si mesmo por isso.
- Odeio.

Ódio. Seria aquela a palavra certa? Ou seria apenas o incômodo de uma nova condição, uma nova escolha que havia feito? Será que havia feto a escolha certa? Havia dos caminhos a sua frente e a sombra lhe mostrava isso, dividindo-se. As duas partes esperavam o lobo, como se dissesse que não importaria aonde fosse, a sombra estaria consigo.

- Faz parte de mim.
- Faz parte de você.
- É minha natureza.
- Você se adaptou.

Era sua natureza. O piche era sua solidão, seu eu, sua sabotagem, sua tristeza, sua caça, sua esperança, seu ego, seu choro, seu uivo. 

- Eu tenho amigos.
- Oh, tem sim. Amigos muito próximos, irmãos, sua alcateia.
- Mas não me sinto completo.
- Porque tem que se sentir completo? Porque não pode ser completo assim?
- Porque?

Eram muitas duvidas. Porque corria atrás desse sol? Desse calor? Tinha pelos para aguentar as tempestades gélidas de sua alma. Olhava para trás e via todos aqueles outros lobos que fizeram parte de seu caminho; alguns, levou consigo, dentro de si, outros, ficou curioso por este motivo: porque uivavam tanto em busca de sua Lua? Porque só assim, poderiam se sentir completos? Pra quê se sentir completo? Seria mais um lobo afim de achar companheira, viver e morrer? Era tão simples. Não podia ser simples, era inconformado.

- Você é indeciso. Ora busca solidão, ora busca carinho. 
- Mas não pude pedir.
- Orgulhoso. Prepotente. Você estragou.
Não... Quer dizer, talvez seu jeito sozinho, atrapalhado, um tanto quanto bruto em suas palavras possa ter machucado. E não fez por mal, era apenas assim. Foi ensinado pela neve a ser assim; gelado. 

- Mostra-se orgulhoso, vitorioso, mas por dentro, foge de si mesmo.
- Porque?
- Porque eu sou você. E eu sei que você tira força de mim.

Ele sabia disso também. Quando era desafiado, ele vinha. Aquele que falava para si vinha a tona e o protegia.

- Não deve me erradicar. Fico com fome. E quando com fome, exalo de ti.
- Convívio. 
- Sei que vai escolher este caminho. Indeciso ainda. Vai se arrepender?

E caminhou lentamente para o caminho que sabia o que havia a sua frente. Teria a si mesmo de companhia. Afinal, não era aquilo sentir-se só? Ter a si mesmo como companheiro? Saber se respeitar, se alimentar... Conhecer melhor a si mesmo para, quem sabe, não ser tão bruto. Negaria sua natureza? Continuaria assim. Era um processo de renovação do lobo. E sua sombra o seguia, passo a passo; protetora, professora, inimiga, sina.

-

Bem, acho que fiz mais esse texto pra falar um pouco da minha "sombra". A que me põe no lugar. Me põe na linha e me faz repensar minhas atitudes. Já estava na hora d'eu aprender a conviver com essa minha coisa, essa minha, digamos, natureza de ser.

É, Lobo... eu sei que você tá aí dentro. Acho que tá na hora de passar um conteúdo bacana aqui pra vocês, pequena remessa de leitores... Recomendo assistirem:
http://www.youtube.com/watch?v=YX3MKbqdeJA


quinta-feira, 2 de maio de 2013

Inimigo

Lá estava ele, em seu habitat. O gelo, o frio, a neve. O inverno voltara novamente sob os pés do lobo. O sol o havia traído já fazia muito tempo. Havia tido diversos encontros durante sua jornada sem destino, pequenos calores passageiros, nada que se comparasse à majestosa bola de fogo. Mas havia notado algo no meio de sua "perambulância", ela estava no céu. 

Redonda como o sol, mas menor. havia suas crateras nela, era o que podia ver. Afinal de contas apesar de seu calor, nunca pôde olhar diretamente para a majestade quente, era impossível, por mais que tentasse; talvez, suas tentativas o fizeram mais cego.

Mas eram só lembranças, ainda que dolorosas e sempre duvidosas. Ele havia ido embora e só deixou o frio para trás, a neve parecia navalha por debaixo de seus pés e o vento penetrava seus pelos cheios como balas disparadas em um sussurro constante nos seus ouvidos.

Porque olhava tanto para si? Ainda que nas noites (que pareciam eternas) cheias de nuvens, podia observar o brilho que perfurava o tecido do céu recoberto. Já estava cansado, começava a perder as esperanças da volta de seu calor.

Foi que se deu conta dela, do que era ela; apenas um espelho. Um espelho para poder se lembrar de onde estava indo ou talvez uma brincadeira de mau gosto, como se ainda pudesse olhar por uma janela o que havia perdido. Encolheu-se, arrepiou-se, como se sentisse mais sozinho ainda. Sentia-se completamente só. Havia perdido já fazia tempo suas forças e só se dera conta agora, de que seus pés caminhavam sozinhos, automáticos. Se deu conta disso e parou.

Aonde estava? Onde veio parar? Sua vida pareceu ser feita de flashes, tudo que havia conquistado até agora parecia ter desaparecido no mesmo espaço tempo em que se perde a consciência do acordar de um sonho; a mistura da realidade com o pensamento, a imaginação ainda forte, a sensação que sentia naqueles momentos, diminuídos conforme ia se dando conta do seu lugar. 


O frio fazia parte dele. Era para isso que o lobo tinha sua pele grossa. Agora começava a entender o porque de seus semelhantes uivavam para a grande jóia no céu; lamento. Pelo menos era o que significava para si. Sorrow. "Não é fugir da perda, é aceitar a dor, entregar-se".

Era seu habitat. Desde o começo, sempre foi. E deixou-se cegar pelos raios acalentadores do céu, na confiança de que ele jamais o abandonaria. Frio era seu sobrenome e sentia algo dentro de si que parecia chamá-lo, seu eu. Algo que formava-se como um piche de sombras a sua frente, sua imagem, sua silhueta, a si mesmo. Acompanhado de si mesmo, ou talvez sozinho a dois. Ego.

sábado, 27 de abril de 2013

Singular.


Olá, meu caro amigo.

Faz tempo que não nos vemos, não é mesmo? Acho que eu e você partilhamos dessa amizade a distância e quando nos vemos, podemos nos falar abertamente, sem medo de olhar um pro outro e ver que um mudou, não tem mais algo que gostávamos de ver ou coisa parecida. Não se sinta solitário sozinho, estamos juntos nessa solidão, ainda que divididos. 

Bem, acho que me dei conta ultimamente de uma coisa um tanto quanto "contraditória". Acho que nos dias de hoje as pessoas dão muito valor a reprodução da especie ou coisa parecida. depois de esperar dois longos anos pela volta daquilo que eu prezava tanto, acho que hoje me vejo em um futuro no qual tinha um tanto quanto medo de estar. Mas, até que mudei em certo ponto. Esse medo hoje me move, como se fosse um estopim da coragem, como se tivesse esta de sobra e meu medo fosse a pequena fagulha do barril de pólvora. Talvez essa conotação explique o fato de as vezes ser tão impulsivo e reativo a certas coisas, coisa extremamente contra o que digo, sobre ser paciente e racional.

Me vejo mudado, até. Será ilusão? Afinal de contas, sempre olhamos pra trás e vemos coisas como "já fui mais calmo", "era mais magro", "não cometia burradas". Ilusão, eu acho. Talvez possa me chamar de covarde por não querer mais arriscar muita coisa em relação a sentimentos, relacionamentos ou coisa parecida. Recentemente, tive o que chamam de um "brainstorm":
Porque procuramos tanto um amor para nós? Porque não posso simplesmente amar algo como música, arte,  um instrumento, meu trabalho e ser simplesmente feliz com isso? Porque minha natureza NECESSITA de um parceiro? Apenas para satisfazer desejos sexuais, partilhar segredos e planos, casar mentes (não, não é "casamento" como a maioria pensa)? Não seria uma má ideia, só não entendo o porque de ser algo tão... necessário. As pessoas se veem numa corrida para achar um parceiro, como se precisassem respirar o mesmo ar da tal alma gêmea para poder sobreviver.

Sabe, brincam comigo a todo tempo, pelo fato d'eu ter um rosto bonito, olhos claros e bla bla bla, conceitos de beleza aceitáveis pela nossa sociedade. Mas de fato, nunca fui bem em questão de relacionamentos; não me expresso bem (acredite), sou meio bruto, meu sarcasmo já deixou as pessoas desconcertadas e sou rabugento. É sério, eu sou mesmo. Já contei aqui pra você como foi minha primeira paquera na escola, quarta série, o beijo no rapaz da sexta série, na minha frente.

O caso é, lobo (acho que vou te chamar assim, amigo), que nós sabemos muito bem que podemos sobreviver sem essa coisa de "alma gêmea". Você, mais do que ninguém, é testemunha das minhas tentativas de poder elevar alguém a esse patamar mas você me mostrou que isso seria um tanto quanto egoísta, que a vida tem o livre arbítrio para todos e a marca daquele tapa da vida ainda arde. O choque foi grande, você sabe. Ao mesmo tempo, a pessoa em que eu mais confiava, tornou-se uma inimiga e hoje em dia vivo essa paixão odiada, reprimida, engolida a força. 

Acho que hoje, amigo, não me vejo mais nessa necessidade tão veemente de copular, de beijar, de acabar em uma paquera ou algo do tipo. Vejo mais como uma droga que dura pouco tempo e talvez já fui tão viciado nisso que hoje em dia o efeito é lento e fraco. Não estou mais a espera dessa lua, nem do sol. O que eu procuro talvez nem exista e eu nem sei o que é, pra falar a verdade. Na maioria das coisas que fiz na minha vida foi com o intuito de crescer para uma pessoa, pelo menos grande parte da fração do objetivo dos meus atos; querer aprender a tocar um instrumento (coisa que não sei até hoje), desenhar, arranjar um emprego que me pague bem, fazer uma faculdade... essas coisas sempre fiz pensando em impressionar alguém, de maneira que olhasse pra mim e visse que eu não era tão ruim assim.

Desisti, eu acho. Não vou procurar mais. Estou cansado, estou ficando velho, por dentro e por fora. A apunhalada doeu e ainda arde o veneno. E o orgulho não deixa que me tirem ela. Já cicatrizou e agora faz parte de mim.

She was the one thing i believed,
That i needed to hold me
Still i can smell her, hear her breath,
Feel her body beside me.
How long i've waited, waited for you,
To come back to hold me,
What should i do
when i feel so lonely?
How could you to this to me?
Betrayed by my closest friend...
How could you to this to me?
I won't let you hurt me again now.
I'm nothing to you i can see,
Just walk away from me,
How could you do this to me?
You'd stand and watch me bleed.


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