Lá estava ele, em seu habitat. O gelo, o frio, a neve. O inverno voltara novamente sob os pés do lobo. O sol o havia traído já fazia muito tempo. Havia tido diversos encontros durante sua jornada sem destino, pequenos calores passageiros, nada que se comparasse à majestosa bola de fogo. Mas havia notado algo no meio de sua "perambulância", ela estava no céu.
Redonda como o sol, mas menor. havia suas crateras nela, era o que podia ver. Afinal de contas apesar de seu calor, nunca pôde olhar diretamente para a majestade quente, era impossível, por mais que tentasse; talvez, suas tentativas o fizeram mais cego.
Mas eram só lembranças, ainda que dolorosas e sempre duvidosas. Ele havia ido embora e só deixou o frio para trás, a neve parecia navalha por debaixo de seus pés e o vento penetrava seus pelos cheios como balas disparadas em um sussurro constante nos seus ouvidos.
Porque olhava tanto para si? Ainda que nas noites (que pareciam eternas) cheias de nuvens, podia observar o brilho que perfurava o tecido do céu recoberto. Já estava cansado, começava a perder as esperanças da volta de seu calor.
Foi que se deu conta dela, do que era ela; apenas um espelho. Um espelho para poder se lembrar de onde estava indo ou talvez uma brincadeira de mau gosto, como se ainda pudesse olhar por uma janela o que havia perdido. Encolheu-se, arrepiou-se, como se sentisse mais sozinho ainda. Sentia-se completamente só. Havia perdido já fazia tempo suas forças e só se dera conta agora, de que seus pés caminhavam sozinhos, automáticos. Se deu conta disso e parou.
Aonde estava? Onde veio parar? Sua vida pareceu ser feita de flashes, tudo que havia conquistado até agora parecia ter desaparecido no mesmo espaço tempo em que se perde a consciência do acordar de um sonho; a mistura da realidade com o pensamento, a imaginação ainda forte, a sensação que sentia naqueles momentos, diminuídos conforme ia se dando conta do seu lugar.
O frio fazia parte dele. Era para isso que o lobo tinha sua pele grossa. Agora começava a entender o porque de seus semelhantes uivavam para a grande jóia no céu; lamento. Pelo menos era o que significava para si. Sorrow. "Não é fugir da perda, é aceitar a dor, entregar-se".
Era seu habitat. Desde o começo, sempre foi. E deixou-se cegar pelos raios acalentadores do céu, na confiança de que ele jamais o abandonaria. Frio era seu sobrenome e sentia algo dentro de si que parecia chamá-lo, seu eu. Algo que formava-se como um piche de sombras a sua frente, sua imagem, sua silhueta, a si mesmo. Acompanhado de si mesmo, ou talvez sozinho a dois. Ego.